Quantcast
Channel: Guilherme Fiuza
Viewing all articles
Browse latest Browse all 72

Barbosa contra a Petropizza

$
0
0

Joaquim Barbosa pediu a demissão do ministro da Justiça. Barbosa é aquele do mensalão. Ou melhor: aquele ex-ministro do Supremo Tribunal Federal que impediu o sono eterno do maior escândalo de corrupção da história da República (agora já superado). O ministro da Justiça é José Eduardo Cardozo, um dos mais atuantes servidores do PT na arte de usar o Estado para a militância político-partidária. A pergunta é: o Brasil vai deixar Joaquim Barbosa falando sozinho contra as bandalhas petistas?

A ação do ministro da Justiça tem sido um espetáculo. É um porta-voz dos companheiros, acidentalmente instalado na Esplanada dos Ministérios. A cada lambança dos correligionários, Cardozo emerge, pontificando com seu ar de jurisconsulto. Num de seus lances mais ousados, foi a público criticar a prisão dos mensaleiros. Na série de palpites sobre o escândalo do petrolão – que ninguém pediu, mas ele dá assim mesmo – destaca-se uma declaração recente de Cardozo pedindo a investigação da Petrobras no governo FH. Você não leu errado: o ministro rasgou a fantasia, mandou às favas sua função de zelar pela justiça no Brasil de hoje e subiu no palanque para bombardear o passado.

No Brasil de hoje, esse onde o ministro Cardozo deveria zelar pelo cumprimento correto das leis, as leis estão sendo arrombadas pelo seu grupo político. A orgia na Petrobras não tem precedente – e se o ministro tivesse boa-fé não compararia o petrolão com nada. Nunca antes na história deste país foi investigada a transferência direta de propina na Petrobras para o partido do presidente da República. Transferência direta e sistemática. Com fortes indícios, inclusive, de utilização desse dinheiro sujo na campanha para a reeleição de Dilma Rousseff. No centro dessa tragédia, o que propõe o ministro da Justiça? Investigar o governo Fernando Henrique.

A sorte dessa turma é que o Brasil tolera bem o achincalhe. Em qualquer outro lugar, digamos, moralmente mais suscetível, o sujeito que chegasse a esse grau de cinismo teria sérias dificuldades de sair de casa com a cabeça erguida – ou até de se olhar no espelho. Mas aqui não tem problema, e eles vão se espalhando. Tudo continuaria na sua mais perfeita ordem hipócrita se não fosse a aparição do ex-ministro Joaquim Barbosa, sempre pronto a estragar tudo. Em pleno Carnaval, Barbosa resolveu disparar contra o bloco dos sujos.

Isso não se faz. Como se sabe, o Carnaval é o momento de encher a cara e esquecer tudo, o que aliás o brasileiro faz muito bem. Mas as notícias de que o ministro José Eduardo Cardozo teve encontros com advogados de empreiteiras denunciadas na Operação Lava Jato, fora da agenda oficial, foram demais para Joaquim Barbosa. “Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a presidente Dilma demita imediatamente o ministro da Justiça”, declarou o ex-presidente do STF.

Barbosa não tem dúvida de que, sob o manto institucional e o pretexto jurídico, o ministro da Justiça está fazendo política. No caso, lidando com réus que, dependendo do que contarem, podem terminar de afundar o governo do PT no escândalo mais obsceno que a República já viu. Como relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa conhece bem o modus operandi do governo e do partido (são a mesma pessoa), na blindagem a seus queridos aloprados. Até proibir a transmissão do julgamento no STF o PT tentou – na ocasião, por meio do ex-deputado André Vargas, que viria a ser cassado por seu envolvimento com o doleiro do petrolão. Como se vê, em se tratando do PT, cada enxadada é uma minhoca.

Seria cômico se não fosse trágico: o mesmo grupo político que Joaquim Barbosa desmascarou no mensalão é o artífice do petrolão – e permanece governando o Brasil, dando as cartas nos Três Poderes e conspirando para blindar seus golpes contra o contribuinte. Da forma como o governo popular foi botando todo mundo em sua folha, talvez hoje Joaquim Barbosa tenha de ser cara-pintada, ninja, OAB, UNE e talvez até Ministério Público, entre outros.

Se Barbosa fosse Vargas (Getúlio, não André), já teria amarrado seu cavalo no Obelisco. Hoje deve haver um meio mais moderno de desinfetar um palácio. E o Brasil, pelo visto, vai ficar esperando Joaquim dizer qual é.

 


Viewing all articles
Browse latest Browse all 72


<script src="https://jsc.adskeeper.com/r/s/rssing.com.1596347.js" async> </script>